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Pesquisas inovadoras com geossintéticos desenvolvidas na UnB
Professor Gregório Araújo comenta os estudos em vários campos de aplicação
Com o passar dos anos, acompanhamos o significativo progresso da sociedade. A aplicação da tecnologia na área da engenharia tem possibilitado o desenvolvimento de novas soluções para acompanhar essa evolução e os geossintéticos são um excelente exemplo desse avanço.
Há onze anos na Universidade de Brasília (UnB), professor Gregório Luís Silva Araújo tem se dedicado aos estudos com geossintéticos desde 2004, quando iniciou o mestrado sobre a simulação numérica de aterros reforçados sobre solos moles e se apaixonou pela área. Na instituição, existem pesquisas envolvendo geossintéticos em vários campos de aplicação.
“Na área de reforço temos ensaios em grande escala e envolvendo solo transparente para pesquisar o uso de colunas granulares encamisadas com geossintéticos para aplicação em aterros sobre solos moles. Os estudos permitirão um melhor entendimento do que acontece com o solo mole durante o processo de cravação, a área de influência durante a inserção das colunas, bem como o efeito de arqueamento e desenvolvimento de poropressões. Há também uma pesquisa com solo transparente e uso de geogrelhas visando verificar melhorias de configuração de instalação no campo. Há ainda outro pesquisador de doutorado que está avaliando a interface entre tiras poliméricas e resíduo da construção e demolição para o uso dos dois materiais em estruturas de contenção de menor impacto ambiental”, ressalta Gregório.
Outra área com pesquisas envolvendo a aplicação dos geossintéticos é a construção de canais e de aterros sanitários.
“Há uma pesquisa envolvendo micro e macro rugosidade de geossintéticos para avaliar a resistência de interface entre os mesmos e outros materiais. Temos também o emprego de impressora 3D para fabricar o geossintético com a geometria desejada. Apesar de ainda estar em fase inicial, a técnica está sendo promissora. Ainda nessa linha de investigação, recentemente houve a defesa de mestrado de um pesquisador que avaliou o uso da Inteligência Artificial para tentar prever a resistência de interface entre areia e geomembranas, combinação às vezes empregadas em aterros sanitários”, comenta.
Em outra aplicação, Gregório explica que há uma pesquisa que está avaliando o estudo de geotêxteis como material de separação entre solos finos, simulando subleito, e lastro de ferrovias. “Os resultados têm mostrado que a gramatura do material empregado tem influenciado muito no resultado”, diz.
Microtomografia computadorizada de geotextil contaminado com solo
PESQUISAS COM SOLO TRANSPARENTE
Entre os destaques, estão as pesquisas com solo transparente, técnica não intrusiva, tendo em vista a possibilidade de ver através do meio sem alterá-lo com a inserção de instrumentos.
“Com um sistema de câmeras, é possível monitorar os deslocamentos durante o processo de execução de uma determinada técnica ou verificar como eles distribuem-se com a presença, por exemplo, de uma ou duas geogrelhas. Também é possível verificar a área de influência de um carregamento. É uma técnica que já foi empregada anos atrás, mas o aumento da capacidade de processamento dos computadores e das câmeras fotográficas melhorou a interpretação dos resultados. A técnica tem sido empregada em diferentes países e em diversas aplicações, mostrando que a técnica, apesar de algumas limitações, é realmente promissora”, afirma o professor.
Campo de deslocamentos durante processo de cravação de coluna granular com uso de solo transparente
GEOSSINTÉTICOS E O FUTURO DA ENGENHARIA
Os geossintéticos são relevantes para aplicações no presente e para o desenvolvimento do futuro da engenharia no Brasil e no mundo. De acordo com Gregório Araújo, os geossintéticos têm um papel primordial para um desenvolvimento mais sustentável.
“O crescimento da população humana tem levado à necessidade de aumento de infraestrutura e de áreas para moradia. Nesse contexto, os geossintéticos auxiliam em menores volumes de material extraídos da natureza, com menos desmatamento e menores volumes de solo retirado de jazidas”, ressalta.
O especialista comenta que muitos estudos também mostram que as emissões de carbono, muitas vezes, são menores com emprego desses materiais. “Ainda temos bastante potencial no Brasil e alguns lugares do mundo. E também o fato de que, em vários países desenvolvidos, esses materiais são bem mais aceitos”, finaliza.